sábado, 20 de maio de 2017

JOSIAS MACHADO

Lei Municipal 187/27 - CEP: 35680-046
Denomina logradouro público: Rua Josias Machado / Centro


Lei nº 187 de 29 de janeiro de 1927
Mudando o nome de algumas ruas da cidade

O Povo do município de Itaúna, por seus vereadores, decretou, e eu em seu nome, sanciono a seguinte Lei:
Art 1º — Ficam mudados os nomes das ruas Tiradentes para Antônio de Mattos; Matriz para Manoel Gonçalves e 15 de Junho para JOSIAS MACHADO.
Art. 2º — Revogam-se as disposições em contrário.
Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencerem, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente, como nela se contém.
Sala das Sessões da Câmara, 29 de janeiro de 1927
Dario Gonçalves de Souza — Presidente

Registrada e publicada nesta Secretária, aos 29 de janeiro de 1927
Sílvio de Mattos — Membro





Calvo, porte mediano, cabeça grande, olhos penetrantes, voz e gestos manos e paternais, alegre e grande fazedor de amigos. Foi assim que conheci o vovô Juza na minha infância.

Nascera em Santana a 30 de março de 1858 e era filho do capitão José Justino Machado e de Purcina Nogueira Duarte. Neto materno do alferes Manoel Ribeiro de Camargos. Casara-se aos 18 anos com Tereza Gonçalves Nogueira, da mesma idade, filha do tenente coronel Manoel José de Sousa Moreira. Desta união, os troncos das famílias Nogueira e Gonçalves de Itaúna se mesclaram.

Segundo ouvi dizer e se pode deduzir, o Cel. Josias Nogueira Machado, fora um irrequieto e de atividade multiforme: comerciante em alta escala, grande fazendeiro, político, músico e industrial. Vivera em constante transformação, na vanguarda das notáveis criações do século, em incansável busca de novidade e progresso.

Inteligência esclarecida e de grande intuição, nascido, criado e vivido no seu burgo, sem ter conhecido ou palmilhado longes terras. Aos 16 anos perdera o pai, que lhe deixara uma herança de seiscentos mil réis, com que montou uma casa comercial. E tudo na vida fora completo e grandioso.

Como chefe de família, criou uma prole de 12 filhos com invulgar dedicação. A todos deu educação esmerada e encaminhou na vida, legando um bom patrimônio. No comércio, com casa de atacado e varejo, onde é hoje a Siderúrgica Corradi, transfigurava, o pacato arraial de Santana num movimentado centro de abastecimento de todo o oeste mineiro. 

Na agricultura, fora pioneiro no desbravamento da terra inculta, com métodos modernos e racionais, com o emprego da máquina e do fertilizante, em choque com os processos rudimentares, então usados, de derrubada de matas e de sua queimada. Em substituição ao monjolo e ao pilão, montou em sua fazenda do Barreiro e dos Gorduras engenhos centrais de beneficiar arroz e café, os primeiros da região.

Na pecuária também o pioneiro, não só no município, mas em todo o Estado, na criação do gado selecionado e fino, zebu, suíço e holandês. Dava gosto ver o seu plantel e folhear as suas revistas especializadas nacionais e estrangeiras, onde se exibiriam os mais lindo e perfeitos exemplares bovinos, suínos, equinos, de muares e de aves, de nenhum modo inferiores aos atuais premiados nas exposições nacionais. Na sua bem tratada fazenda, possuía silos e banheira carrapaticida, novidade e luxo na época, e até hoje pouco usado no município.

Na avicultura, fora um apaixonado. A sua chácara no alto da rua Direita era um regalo de saborosos frutos; um jardim babilônico, vasto, variado e ciosamente cuidado. Tratava das suas plantas com verdadeiro carinho. E não consentia que nelas se batesse ou jogasse pedra para apenhar-lhe frutos. Colhia-os ele mesmo com instrumento apropriado para obsequiar parentes e amigos. E ao colhe-los ia desfiando para esses toda a história de cada árvore, cuja semente viera de longe ...

Na música, encheu de alegria e de acordes os salões, as festas e as noites enluaradas do arraial de Santana, com o seu conjunto musical, composto dos mais modernos instrumentos de sopro e de corda. Os seus dois filhos mais velhos, Azarias e Augusta, foram compositores e exímios pianistas. Como professor de seus filhos, trouxera para sua casa o maestro Flores, do Conservatório de Música de Belo Horizonte. Pode-se, pois, dizer que em sua casa “outrora retumbaram hinos”...

Na indústria, criara no município o laticínio. Fora gerente da Companhia de Tecidos Santanense e um dos maiores acionistas fundadores da Companhia Industrial Itaunense. Fora o precursor na exportação do minério de ferro e na implantação em Itaúna da indústria siderúrgica. Para consecução de seu sonho, adquirira as jazidas dos Três Irmãos, no município de Brumadinho, as do Saraiva e do Candu, arrendadas atualmente ao grupo de Jafet, no Feixo do Funil, e as da Serra do Itatiaia, em Itatiaiuçu. A Grande Guerra de 1914 fizera com que os seus planos malograssem.

O seu ideal, entretanto, foi mais tarde realizado pela família Corradi, de descendência italiana. E de tal modo o empreendimento contagiou os filhos da terra, que hoje Itaúna já se pode considerar um centro siderúrgico, com mais de 100 toneladas diárias de ferro gusa.

Afinal de contas, Dr. Ovídeo, Dr. Lincoln, Mozart, Ronan, Dr. Fazardo, Dr. Wagner, Anatole, Dr. Tito, Bibiu e Ossian, não furtaram de ninguém o seu pendor siderúrgico. Herdaram-no legitimamente, porque filho de peixe não pode ser senão peixinho.

Na política, o Cel. Josias fora o fundador do Clube Republicano de abril, por ocasião da campanha republicana de Silva Jardim, Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa. Fora um dos construtores do município e um dos batalhadores pela sua emancipação administrativa, sendo vice-presidente da sua Câmara Municipal, honesto, prestativo e bondoso, dispunha de imenso prestígio em toda região. 

Certa vez graçando a peste e a fome em certo povoado vizinho, e tendo de por ali passar com uma boiada, recomendou ao seu capataz que nas suas proximidades quebrasse de propósito as pernas de umas 3 rezes e, alegando apenas um acidente, as abatesse em seguida e distribuísse a carne ao seu povo. E que ninguém ficasse sabendo da verdade. Como bom samaritano, era modesto, simples, despretensioso.

Nunca se vangloriou ou se valeu do seu prestígio, chegando a ponto de um seu amigo e parente observar:
— Você é boi, primo Juza, ... é boi ..., dizia-lhe o major Senócrit, no tempo das suas bebedeiras. E diante do espanto do outro completava: — Não sabe a força que tem ...
Josias Nogueira Machado falecera a 22 de dezembro d 1923. Nos seus funerais, dos mais concorridos de Itaúna, a banda de música local acompanhou o seu féretro do alto da rua Direita até a sua última morada, tocando, numa voz de choro, uma dorida marcha fúnebre, mais triste ainda do que comumente executadas na procissão do encontro, nas comemorações da Semana Santa.

Quiseram, assim, os seus amigos, expressando os seus sentimentos, que a sua sula alma — boa, paciente, caridosa e artística fosse para o céu embalada ao som de música, de que em vida tanto gostava.   




História de Itaúna




REFERÊNCIAS:
Texto: Mário Soares
Pesquisa: Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Organização: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria Castro Nogueira
Fonte: Revista Acaiaca nº 56, org. Celso Brant,1952, p.72,73,74.
Projeto de Lei dos Logradouros: Prefeitura Municipal de Itaúna
Lei Municipal de Itaúna nº 187, p.215
Colaboradora: Viviane Nogueira Mello


Local: R. Josias Machado - Centro, Itaúna - MG, 35680-046, Brasil

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