Denomina logradouro público: Rua Isaurino do Vale / Bairro Vila Tavares
Pedreiro,
arquiteto, cartógrafo, topógrafo, músico ...
Isaurino do Vale, vibrante personalidade humana e pioneiro do abastecimento d’agua
potável em Itaúna, era um cidadão que impressionava a todos pela sua bondade
altruística, pela maneira oculta que praticava a caridade.
Nasceu
aos 21 de janeiro de 1899 em Queluz de Minas, hoje Conselheiro Lafaiete. Foram
seus pais o sr. Manoel do Vale e Dona Maria Petrina Menezes do Vale, possuindo
quatro irmãos, com os quais se entendia muito bem e com afinidades fraternais:
José Miguel do Vale, Dolores do Vale Gomes, Augusto do Vale e Maria do Vale.
Em
1925 a convite do então Prefeito Municipal, Dr. Dario Gonçalves de Souza, saiu
de sua terra natal para o município de Itaúna, com a importante missão de construir uma represa para
captação de um novo manancial de água potável para a cidade.
Firmara
contrato com o engenheiro Dr. José da Silva Brandão, que recrutara o Dr. Miguel
e este, por sua vez, arrebatara daquelas encostas e ladeiras os irmãos Vale —
Isaurino e Augusto, para que o auxiliassem na missão da grande empreitada.
A
comitiva instalara-se na Rua Direita, hoje, avenida Getúlio Vargas, no casarão
azulado e antigo do Vigário Pe. João Pereira, que o alugara para aqueles
benfeitores. Dona Maria Petrina de Menezes, mãe dos irmãos Vale, vinha como
administradora do lar. Excelente “relações públicas”, logo fez um vasto círculo
de amizades na cidade, tornando-se muito admirada.
Daquela
equipe fazia parte: pedreiros, cabouqueiros, um carroceiro, um ferreiro, além
do carroção que trouxeram para tração da represa. Formavam todos uma só família,
obedecendo ordens e aos comandos de Dona Maria Petrina Menezes Vale.
Com
muitos sacrifícios até mesmo riscos de vida, iam edificando a represa,
dinamitando a pedreira, batendo brocas ferrando bigornas; material transportado
à distância pela caravana.
Isaurino
e Augusto eram pedreiros competentes. Isaurino chefiava a turma com grande
empenhado em um serviço rápido, mas, com segurança. Simpáticos, logo caíram nas
graças do povo itaunense, que os acolheram com grande hospitalidade.
Durante
o dia, prestavam serviços à represa. À noite, reunidos no solar antigo,
encantavam os moradores com seus instrumentos. Isaurino era exímio ao violão,
violino e bandolim. Augusto era igualmente, dedilhava o violão. Um cunhado de
ambos, que viera em visita à família ali permanecendo por algum tempo, era
clarinetista. Os demais cantavam inclusive Dona Petrina.
Assim,
uma orquestra se formara naquela casa para embevecimento de seus vizinhos. Era
corrente afinar instrumentos e valsas que enchiam o ar com a harmonia. Modinhas
eram ali revividas para alegria geral dos coirmãos. As composições românticas
deleitavam ouvidos e corações. Os chorinhos estridentes e brejeiros, como
“Sururu na cidade” e “Tico-Tico no Fubá”, eram igualmente interpretadas.
Aqueles homens que, durante o dia ofereciam as mãos às marretas, colheres de
pedreiro, alavancas e brocas, à noite dedilhavam instrumentos com sabedoria e
sensibilidade.
Na
luta do homem contra a natureza, conseguiram aproveitar da rocha o que
desejavam — perfurações foram obtidas através de explosões e alimentadas pelo
grande açude, amparada pelos “ladrões” mecânicos, avançando para as valas
previamente abertas e para o paredão levantado. A represa nascia consciente de
sua maternal tarefa de alimentar com águas puras, a população da cidade.
Isaurino,
sempre atento no comando de seus homens, liderava ao mesmo tempo, dois grupos
diferentes — durante o dia a força física e o cérebro e a noite as emoções com
sua música.
Desde
o início de seu trabalho na represa fora admitido como funcionário da
Prefeitura Municipal. Terminados os trabalhos, não mais voltou a residir em
Queluz de Minas. Permaneceu em Itaúna. Seu irmão Augusto mudou-se para o Japão
de Oliveira, hoje Carmópolis de Minas, onde casou-se e constituiu família.
Isuarino
continuava laborioso, nos quadros da Prefeitura. Era um urbanizador admirável.
Autodidata em engenharia. Sempre em ascensão em seus postos, prestava
relevantes serviços à comunidade com eficiência e brilhantismo.
Casara-se
com Dona Raquel Nogueira do Vale filha de Antônio Esteves Gaio e de Dona Osória
Nogueira Soares, nascendo-lhes, apenas uma filha —Inês Antunes do Vale, professora
primária, casada com o sr. Walter
Antunes, próspero comerciante e fazendeiro abastado, sendo filhas deste casal,
Soraya Antunes do Vale e Silvana Antunes do Vale.
Isaurino
do Vale ocupou os mais expressivos cargos na Câmara Municipal de Itaúna:
Ø 1925
— Admitido como Encarregado dos Serviços de Abastecimento de Água e esgoto;
Ø 1928
— Assume a direção dos referidos serviços como administrador;
Ø 1937
— Legalizado para o exercício da profissão, caderneta nº 131;
Ø 1938
— Designado par servir como membro do Diretório Municipal de Geografia;
Ø 1940
— Designado para proceder à revisão da Carta Geográfica do Território do
Município e Auxiliar do Serviço de Recenseamento Geral do Brasil;
Ø 1941
—Designado para elaborar uma monografia do Município, no concurso instituído
pelo Conselho Nacional de Geografia. Concluído este trabalho e entregue para
julgamento, foi aprovado ainda no mesmo ano e foi designado para proceder ao
Recenseamento com Base para Elaboração da Monografia Histórico Corográfico do
Município de Itaúna. Realizada a obra que deu entrada no Departamento estadual
de Estatística de Belo Horizonte. Foi muito felicitado pelo Diretor do
Departamento;
Ø 1942 — Designado para as funções de Fiscal do
Distrito da Cidade, pelo falecimento do antigo ocupante do cargo. Também neste
ano foi designado para chefiar os serviços de Estatística Municipal;
Ø 1944
— Volta a ocupar a chefia dos Serviços de Obras;
Ø 1945
— Designado por ordem do sr. Prefeito para auxiliar ao engenheiro topógrafo, no
levantamento da Planta Cadastral da cidade;
Ø 1946
— Assume o cargo de Chefe de Serviços de Obras, por haver concluído os
trabalhos designados por Portaria Oficial;
Ø 1954
— Aposenta-se de acordo com as leis vigentes na época.
Isaurino
do Vale foi um grande benemérito e Itaúna muito lhe deve. Um precursor do
progresso local, colocou todas as suas energias ao labor constante da
edificação do município. Faleceu aos 3 de outubro de 1969, em Belo Horizonte,
havendo sido trasladado para Itaúna, onde foi sepultado segundo seu desejo. A
figura inesquecível do batalhador permanece — pedreiro, arquiteto, cartógrafo,
topógrafo, músico e funcionário público de inédito valor e de invulgar talento.
REFERÊNCIAS:
PAULA. Almênio José de. Figuras Notáveis de Minas Gerais, 1973, p.230,231.
Pesquisa:
Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Organização
& Fotografia: Charles Aquino
Acervo:
Instituto Cultural Maria Castro Nogueira
Projeto de Lei dos Logradouros: Prefeitura Municipal de Itaúna
Texto 1: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)
Projeto de Lei dos Logradouros: Prefeitura Municipal de Itaúna
Texto 1: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)
INFORMAÇÕES SOBRE O RESERVATÓRIO E BARRAGEM:
SOBRE O RESERVATÓRIO:
Nos anos de 1925 e 1926 foi construído o primeiro reservatório da cidade,
localizado na antiga Rua das Viúvas, hoje Agripino Lima, esquina com Rua São
Vicente. Os responsáveis pela construção foram Isaurino do Vale e Dr. Alcindo Vieira.
Pela Portaria nº 137 de 1928 o Sr. Isaurino do Vale foi nomeado Fiscal de Obras
Públicas Municipais. Além de trabalhar na Prefeitura o Sr. Isaurino fazia
projetos. Dezenas de casas em Itaúna, inclusive duas para meu pai, foram
projetadas pelo mesmo. Isaurino era sogro do Sr. Walter Antunes, proprietário
da Granja Maçaranduba.
SOBRE A BARRAGEM:
Logo acima do Bairro Nogueirinha, na estrada para o Córrego do Soldado, há
ainda hoje, os restos de uma pequena barragem que servia para captação das
águas do Ribeirão do Sumidouro donde vinha por gravidade, em grossos tubos de
ferro até o Reservatório da Rua das Viúvas.
Pesquisa:
Charles Aquino
Fonte: Arquivo Municipal Câmara de Itaúna
Revisão: Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho
Texto 2: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)
Revisão: Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho
Texto 2: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)
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